quarta-feira, 29 de abril de 2015

BATE PAPO COM AMIGO SOBRE HISTÓRIA, FONTES DE PESQUISA, AUTENTICIDADE, VERACIDADE, PROVA DOCUMENTAL, CIÊNCIA, RELIGIÃO, ARQUIVOS PERMANENTES E VIDEO GAME. 
 
Bate papo com João Batista
 
 
O texto a seguir faz parte de um bate papo realizado no aplicativo da moda Whatsapp entre o aluno David Maciel Nunes da Silva e seu grande amigo João Batista Gonçalves de Paiva Júnior. Postamos aqui por entendermos que são reflexões de grande valia para nós que seremos o futuro da Arquivologia.
 
 
A História é uma ciência que tem várias correntes de entendimento. Segundo algumas das mais respeitadas, muitas vezes, não é tão importante se a história realmente aconteceu. Na verdade, o que aconteceu de fato, ou seja, a História factual, é apenas parte da realidade. Já o que é inventado, os mitos, as lendas, a religião, o que não se pode ver nem tocar, também faz parte da experiência humana em contato tanto no mundo natural como no mundo imaginário ou ficcional.
Assim sendo, o que importa é a forma como o homem interage em suas relações com seus iguais e com as coisas que o cercam, com o que se tem de documentação disponível e acessível, por exemplo, o que está no passado não é mais real, pois está apenas na memória, o que se pode ter dele é apenas um registro de alguém que viveu em tal época, esse alguém deixou um documento que pode ser verídico e autêntico ou não. A percepção de cada um, sob aspectos temporais, passa por ele em aspectos culturais, sociais, bem como na experiência individual também. É isso que a história séria estuda. Com a mesma seriedade que se estuda a Segunda Guerra Mundial se estudam os deuses Gregos, ambos têm muito a agregar à cultura humana, ambos são fontes de pesquisa, as quais podem ser tomadas como verdadeiras ou falsas.
Para alguns tradicionalistas a verdade ou a mentira depende da prova documental, para a Diplomática, que é uma ciência, até a falsidade fabricada de propósito merece ser estudada, seus motivos, insinuações, objetivos, etc. Nesse sentido, há que se ter documentação que relate a autenticidade e veracidade de uma informação que determinada fonte possui, por exemplo, se alguém for uma pessoa cética, que não acredita em Deus, porque ele é intangível aos sentidos, ao se ignorar a existência dele, essa pessoa não poderá entender nada do percurso das pessoas e das sociedades em todo o mundo ocidental, seria ignorar uma parcela de contribuição histórica importante da humanidade. Um cidadão comum, um dia, pode ter inventado a bíblia, mas não importa, ela moldou tudo o que existe para nós ainda hoje. Ignorar determinada fonte por conta de um ceticismo irá deixá-lo à margem de uma grande parcela da história da humanidade, com isso, como julgar se uma fonte é falsa? O que se estará perdendo ao fazer isso?
Nesse contexto, será justo apresentar suas conclusões parciais? Uma ciência só pode ser considerada ciência a partir do momento em que ela não quer provar nada, a partir do momento em que ela te dá opções, em que ela não oferece suas teorias como uma verdade pronta, a partir do momento em que ela deixa de refutar quaisquer outros posicionamentos contrários às suas teorias e os toma como uma possibilidade apenas diferente.
Muitos acham que os deuses gregos não existiram, mas, por exemplo, o deus Chronos era o deus do tempo, ele engolia os próprios filhos, isso, na mitologia grega antiga, era uma experiência que queria ensinar algo que não lembramos, que o tempo nos comanda. O filho se acha moderno, mas envelhece e sucumbe com o pai, ignora seus conselhos, mas tem o mesmo fim, sempre! O tempo o leva da mesma forma que levou o pai, ou seja, de certa forma não evoluímos tanto quanto pensamos, às vezes o tempo é circular, hoje, comparado à antiguidade, só temos uma tecnologia mais avançada, apenas, mas o tempo é o mesmo.
Quando jogamos um jogo antigo no vídeo game, que para nós é passado, mas ainda nos é engraçado, que vivemos tudo aquilo, por exemplo, Mortal Kombat 01 (MK1), do início da década de 90, para o garoto que assiste e quer o Mortal Kombat 10 (MK10), esse jogo antigo é ridículo, mas ele não entende ainda que sem aquele primeiro jogo o novo não seria nada, e, os próximos futuros ainda guardarão ou resgatarão informações do mais antigo de todos. O tempo não é fixo, nem mesmo a verdade, que depende da sua própria experiência, a verdade para o novo pode estar no antigo, ou, outras vezes, o presente descobre que o antigo, em seu tempo, apresentava uma verdade que hoje é apenas algo provinciano, inestético, caricato, risível.
A base do conhecimento atual se deve ao estudo das ciências no passado, e, por isso, de uma certa forma, pode se prever o futuro com estudo científico. Essas ciências, hoje, sempre levam o passado junto, as correntes de teste que podem ser julgadas como as mais certas na história. Individualmente são essas que relativizam o tempo e o entendem, mas ele também pode ser valorado.
A verdade como algo valioso e único é construída a partir da época, da cultura, da sociedade, do objetivo, da pesquisa, das informações documentais disponíveis, por exemplo, se se quer mostrar que a Princesa Isabel assinou a Lei Áurea, é verídico se há DNA dela no papel, isso pode ser feito, mas com que fim? Para mostrar o que? Podemos dizer que a veracidade pode existir para o historiador que encontre a solução para o seu problema em tal fonte, ou que ela seja falsa por motivos que aqui não nos cabe numerá-los, mais ainda, a veracidade poderá existir para um povo que se identifica com tal acontecimento. As respostas podem mudar o conceito de verdade ou falsidade.
Ainda nesse entendimento, quando se conta uma história, só pelo fato de ser uma pessoa que tem opinião própria, conta-se de forma a mostrar ou ocultar, sinalizar coisas do jeito de quem a conta, que apresentarão uma certa verdade, e, o que ouve, interpretará sua própria verdade, o qual nem sempre irá se identificar com o que é contado, mas nem por isso o que é contado será mentira. A história irá se encaixar no contexto de quem a ouve e passará a ser a sua verdade, mesmo que seja uma mentira contada.
Nas religiões as verdades são pré-determinadas, na ciência ela evolui e se revoluciona, mas nenhuma anula a outra, ambas são conhecimento humano, por exemplo, muitos dizem que religião é besteira porque ninguém viu um milagre de Jesus e acreditam como idiotas em uma lenda. Dizer que o homem pisou na lua também é uma lenda, porque não vimos de fato, porque não temos prova documental convincente disso, mas acreditamos que seja verdade, a grande maioria das pessoas acredita porque é mais fácil não questionar, é mais fácil tomar determinada fonte como verdadeira a ter que dizer que é falsa e ter que provar o motivo de sua falsidade.
Só se pode acreditar no que a sociedade nos impõe, caso contrário seremos loucos e sem credibilidade. Uma pessoa sozinha não consegue provar a existência de Deus, ou provar que a Terra é azul e gravita em torno do sol, mas se duvidar disso esse alguém será considerado louco ou mentiroso. A ciência também impõe coisas para a sociedade, porém, cabe aqui esclarecer que a sociedade acreditar é diferente de a ciência aceitar, e vice versa. Essas relações fazem a história que conhecemos.
Então, o que isso tudo acarreta no trabalho do pesquisador seria o fato de ele estar disposto a ter um leque maior de possibilidades em seu trabalho, mais ainda, o tempo será global e não linear. Refutar certas fontes, tomando-as como falsas poderia privá-lo de muitas outras verdades.
Um documento falso, por exemplo, mostra que alguém quis falsificar algo por algum motivo, para alguém talvez, ou escândalo de uma outra verdade, outra mentira, etc. Os comunicadores experientes, cientistas, alguns dizem que a verdade está no consenso, no entendimento mútuo, fora disso somos como qualquer outro animal. Essa compreensão conjunta pode ser uma verdade que só é inquestionável até que outro entendimento seja construído, isso também é um fator, impostor, libertador, ou construtor de verdades ou mentiras variadas.
A aceitação de um grupo de entendimento científico apresentado por alguém, Einstein, por exemplo. O conhecimento dele é capaz de produzir energia infinita, verdade (bem), ou destruição total, mentira (mal), uma versão científica do bem e do mal, um paralelo com a religião.
Finalmente, trabalhando com o fato de que o tempo não é linear e nem limitado, de que o antigo não é ruim e que o futuro é uma possibilidade e não algo bom, descobrir se uma fonte é falsa implica considerar tudo isso. Por que a História não é esquecida? Porque ela, em períodos diferentes de tempo, pode ser considerada uma fonte verdadeira ou falsa, o estudo de Einstein é uma fonte verdadeira até que alguém apresente algo que a torne, mediante uma aceitação conjunta de uma parcela da humanidade, para posterior divulgação, equivocada, isso vai acontecer amanhã? Daqui a 50 anos? Não se sabe, até então o seu estudo documentado e deixado para a sociedade é uma fonte segura e verdadeira, e, mesmo que suas teorias um dia sejam contestadas e tomadas como algo que deixou de ser uma verdade absoluta, tudo que ele produziu permanecerá como uma fonte de pesquisa permanente para a humanidade, deverá ser preservado em caráter definitivo em função de seu valor como arquivo hitórico.
 
 
FONTE: BATE PAPO ENTRE AMIGOS NO APLICATIVO DO MOMENTO WHATSAPP.
 

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